sábado, 8 de janeiro de 2011

OS VALORES QUE CONSTROEM OU DESTROEM O CASAMENTO

Onildo Alves da Silva

Trabalhando exclusivamente na área do direito de família há mais de 30 (trinta anos) anos, tenho constatado, pelos casais que me procuram diariamente em meu escritório de advocacia na intenção de se separar, que a maioria deles simplesmente não quer pôr fim ao seu casamento. Muitos vem em busca de uma palavra orientadora que venha tirar as dúvidas que rondam o seu casamento. Querem saber a respeito do rumo a ser tomado em situações de aparente descontrole.

Muitos, por exemplo, não querem se separar apenas pelo medo de serem obrigados a dividir os bens materiais que construíram na trajetória da vida em comum; outros, com medo de iniciar um nova fase da vida, sem saber o destino que lhes é reservado; outros, ainda, sem saber como ficarão os filhos após o término da separação; outros, com medo de passar o resto da vida na solidão, prevendo a dificuldade de um novo relacionamento com outra pessoa, quando tal situação nunca fora prevista em seus planos já que abraçaram o casamento “até que a morte os separassem”. Assim, mil e uma razoes conflitantes são apresentadas pelos casais em meu escritório.

A grande coincidencia, é que quem literalmente chora mais nessas situações são as mulheres. Só que quando estas “param” de chorar e decidem tomar uma atitude definitiva, são os homem que passam a chorar. O que vejo constantemente, é que a maioria dos homens, inicialmente, não querem se separar de suas mulheres. O que eles querem, na realidade, é continuar a manter a situação vivida como está. Se ele tem, por exemplo, uma namorada ou uma amante em sua vida, ele acha que tudo isso é um caso passageiro, e, com o tempo, a situação deverá voltar a normalidade. Ocorre que, normalmente, isso muitas vezes não acontece na prática, já que o envolvimento amoroso sempre se aprofunda de maneira perigosa, colocando em risco a integridade da família.

Muitos maridos deixam, propositadamente, de usar a famosa aliança, usando como desculpa estórias ridículas e infantis como subterfúgio para sua vergonhosa atitude, dizendo, por exemplo, que “aliança não segura casamento”, ou que “com ou sem aliança ele paqueraria do mesmo jeito”, quando sabemos que isto não é verdadeiro, já que se ele usou a aliança no noivado e nos primeiros anos (ou somente nos primeiros dias) do casamento, porque não continuar usando ? A aliança, na nossa tradição, sempre representou (mesmo que muitos assim não encarem) o comprometimento do casamento. Quando algum dos cônjuges simplesmente deixa de usá-la, alegando até mesmo “alergias” e “desconforto no dedo”, é um mau sinal. É uma sinalização de que ele se encontra “livre” e “descompromissado” para o que der e vier.

Muitos maridos não tem hora certa para chegar em casa, chegando muitas vezes até altas horas da noite, isto quando não mesmo dormindo fora. Nada justifica tal atitude, a não ser que o mesmo seja “guarda noturno”, “médico plantonista”, ou que esteja, até quem sabe, em “vigília de oraçao”.

É comum, por outro lado, começarem a surgir repentinas viagens improvisadas onde a esposa nunca poderá ir, muitas vezes de maneira contínua e curiosa, viagens estas que nunca trazem qualquer resultado positivo em prol da família.

Dentro do lar, tais maridos são verdadeiros “estranhos”, não participam de absolutamente nada juntamente com a família, estão sempre alheios aos acontecimentos domésticos, e, quando são chamados, agridem deliberadamente e sem qualquer motivo justificado a quem o “incomodou”. Está sempre nervoso com tudo e com todos, é impaciente com a esposa e com os filhos, achando sempre defeitos para criticar e humilhar a todos, tornando-se aos poucos uma pessoa desagradável. Está sempre curiosamente saindo sozinho em seus passeios, deixando a esposa e os filhos em segundo plano, nunca tendo tempo para os mesmos.


Do ponto de vista sexual, é cada vez mais frio e indiferente com a esposa, chegando ao ponto desta vir a notar. Dificilmente procura a esposa sexualmente, e, quando procura, é apenas para cumprir seu papel de “macho” da casa, a fim de não deixar qualquer brecha para que sua esposa venha a procurar outro homem. Usa deste artifício para que ela nunca venha a pensar que ele tenha outro relacionamento. Mas o seu contato, ou é muito “frio”, ou é “quente demais”, a ponto da própria esposa chegar a perceber que algo está errado. Há aqueles que para o sexo estão sempre indispostos e distantes da esposa, alegando, por exemplo, excesso de trabalho, falta de dinheiro, etc., quando ainda não culpam a própria esposa dizendo que esta se encontra “indiferente” ou “fria”, a fim de escapar do ato sexual com a esposa e poder gastar, depois, a sua energia sexual com a “outra”.

Já a mulher reage de maneira diferente. Existem aquelas que sabem que seu marido está tendo um relacionamento extraconjugal, mas procuram fazer “vista grossa” para não terem que tomar qualquer decisão que coloque em risco a sua família. Ao mesmo tempo, ficam sempre na esperança que o seu “maridinho” venha a mudar repentinamente suas atitudes, e, novamente, volte a ser o que era antes: um bom pai e um bom marido.

Existem ainda aquelas que se cansam de esperar pela tão demorada mudança do marido (que normalmente pode não acontecer), e, com isso, elas mesmas se modificam por completo, passando a “pagar com a mesma moeda” as atitudes vergonhosas do marido paquerador. Se antes ela era uma mulher que praticamente não saía de casa, passa a sair constantemente; nao cuida mais da casa como antes; não se preocupa mais com o marido e os filhos; sua expressão predileta é: “Cada um que se vire. Já me cansei de fazer tudo, e nunca ser valorizada”. Para ela, o que importa agora é apenas o seu ego, sua aparência, não saindo mais dos salões e das manicures, das academias e dos bares noturnos de preferência bem freqüentados. A casa vira uma verdadeira bagunça, os filhos caem no esquecimento e o marido nem se fala. Se este quer sexo ela está sempre indisposta, reclamando sempre de doença e outras dores mais, podendo mesmo apelidá-la de “Maria das Dores”.

A agressividade dela para com os filhos e com o marido passa a ser exagerada. Exerce sempre cobranças constantes para com o seu companheiro. Nunca está satisfeita com o que ele faz.

Há também, por outro lado, aquelas que nunca se preocupam consigo mesmas. Andam sempre desleixadas, não tendo mais motivaçao para viver. E o marido, que já se encontrava distante dela, passa a se distanciar ainda mais.

Outro ponto que também corrói o casamento, são os ciúmes exagerados existentes entre os cônjuges, a ponto de impedir o outro de “crescer”, de se locomover e de definir caminhos a serem tomados. A verdade é que ninguém é dono de ninguém, e a coisa mais bela que o ser humano pode desfrutar é a sua “liberdade de ir e vir”, mas desde que esta liberdade tenha limites preestabelecidos no sagrado juramento do matrimônio.

O que também ainda destrói o casamento é o fato de um dos cônjuges não querer participar das coisas que o outro mais gosta, e, muitas vezes, tentar ainda impedir que ele continue gostando. Ora, uma das maiores belezas da vida a dois está em querer gostar, da mesma forma, daquilo que o outro mais gosta e aprecia, desde é claro que nao seja nada que prejudique a dignidade e o respeito existente entre o casal.

Assim, existem diversos fatores que destroem um casamento, e que também refletem negativamente no dia-a-dia do casal em conflito.

Sobre os pontos que efetivamente constróem e reforçam o casamento, podemos especificar alguns deles. Inicialmente, o de poder enxergar ou perceber que a pessoa com quem você se uniu faz parte de sua vida. Como diz o saudoso poeta Carlos Drummond de Andrade: “quando dois se tornam um, um se torna nada e o nada se torna impossível ”. E tudo isso somente é atingido pelo casal quando houver o amadurecimento do amor prometido no altar.

Outro ponto ao nosso ver importante para o casamento são as diferenças existentes entre o casal, desde que essas diferenças sejam vistas, respeitadas e vividas com maturidade entre ambos. Não no sentido de depreciar a pessoa do outro, mas no sentido de tão somente ajudar o outro a crescer.

Não nos esqueçamos também de outro ponto essencial: o do casal sempre arrumar tempo um para o outro. Sair juntos para as compras, supermercados, feiras, atividades esportivas, encontros que envolvam grupos de casais, onde o casal possa vir a crescer junto e descobrir que para viverem a vida a dois terão que se reciclar sempre. Se tudo no mundo muda, por que não mudarmos também ? Como diz o célebre escritor australiano KEN O’DONNEL: “ou você muda pela consciência, ou você será mudado pelas conseqüencias”. O certo é que, curiosamente, temos que aprender, desaprender, e aprender de novo, se quisermos viver uma plenitude no casamento.

Há casais que acham que na vida não precisam de aprender mais nada. Não participam de nada que envolva o relacionamento deste com outras pessoas ou com outros casais. Não se dispoem a trocas as experiências e idéias que porventura venha a expor os problemas do casal. Para eles o que importa apenas é dar boa escola para os filhos, ter uma casa excelente para morar, um trabalho que lhe de o suficiente para sua mantença, quando, na realidade, não é bem assim. Temos observado que o casal que não se relaciona com outros casais em grupos vai se estagnando, deixando de crescer. Quer um exemplo: se você planta uma árvore e nunca rega ou aduba esta planta, o que esperar dela ? Ela poderá morrer, como da mesma forma poderão morrer muitos casamentos, que passam a “sobreviver” apenas do passado e das recordaçoes. São casais que estão juntos como se não estivessem. Um não desperta mais atrativo no outro. Não saem mais juntos. Não se dão mais as mãos. Em casa, cada um vive no seu próprio canto. Não passeiam mais juntos. Não namoram. Ninguém se preocupa mais em acompanhar o outro na saída de casa para o trabalho, muito menos em abrir o portão ou a porta quando ele ou ela retorna, mesmo quando este era um hábito constante na fase do namoro, do noivado, e muitas vezes até no início do casamento. Como ele ou ela mudou! E mudou para pior.

Outro item essencial a construção do casamento é o respeito que deve ser mantido entre os cônjuges. Na aceitação de cada um como ele é e não como eu gostaria que ele fosse. O respeito pelo espaço do outro, onde não exista o “dono da verdade”, o “sabe-tudo”. Onde um não tenta humilhar a pessoa do outro. O estar junto significa aprender um com o outro, ajudar o outro a “crescer”. E com isso quem ganha é o casal. E ganhando o casal, ganham os filhos, e passa a reinar, então, a harmonia dentro do lar.

Outro ponto que também constrói o casamento é o elogio sincero e despretensioso que deve existir entre o casal no dia-a-dia. Quem não gosta de ser elogiado ? Muitas vezes a pessoa faz tudo pelo outro e o outro não vê. Ou quando vê não fala nada. Mas quando aquela pessoa deixa de fazer algo de bom, a outra reclama e cobra. Por que não elogiar quando o outro faz alguma coisa de bom ? Não é demais lembrar que o importante mesmo é você poder fazer algo para o outro sem querer receber nada em troca.
Finalmente, a fidelidade entre os cônjuges é um fator preponderante (senão o maior) para a durabilidade do casamento. É muito triste a descoberta de uma traição cometida por aquele que, num dia todo especial, lhe confiou fidelidade absoluta. É uma confiança que se perde. É um juramento que se quebra. É um casamento que morre da maneira mais violenta possível.

O nosso entendimento é que o casal deve, acima de tudo, procurar lutar e usar de todos os recursos que necessário forem para evitar a separação judicial, pois durante todos os anos em que venho trabalhando quase que exclusivamente na área de família, nao tenho visto nenhum casal que tenha passado por um processo de separação dizer que valeu a pena, ou que simplesmente está mais feliz depois que se separou. Há aqueles que dizem que valeu a pena, e que estão felizes. Mas, na verdade, não vejo neles qualquer manifestação de sinceridade. É apenas, sim, uma forma de poder consolar a si mesmo para não cair na depressão total. Pois como bem ressalta o Evangelho segundo Mateus, no Capítulo 19:5: “o homem deixará o pai e a mãe, e se unirá a sua mulher, e serão os dois uma só carne. Pois o que Deus uniu, não o separe o homem.”

O que sempre procuro em meu trabalho, antes de levar o casal ao Fórum, é orientá-los e dar um pouco de mim no sentido de dizer-lhes que A SEPARAÇÃO DE UM CASAL É O MAIOR DESASTRE NA VIDA DE UMA PESSOA. Tanto é verdade que, depois de uma separação, dificilmente os descasados voltam a morar com seus pais; e, se chegam a voltar, é sempre em caráter provisório. A verdade única é que, voltar a vida de solteiro quando um dia já se experimentou a vida de casado é muito difícil e complicado, pois ninguém suporta viver na solidão.

O normal é que, após certo tempo, os desquitados acabem se relacionando com outras pessoas, pessoas estas que, muitas vezes, também já passaram por situações semelhantes, e trazem consigo diversas outras complicações, que se somam com as do seu parceiro ou parceira, piorando ainda mais o quadro inicial.

Em última e derradeira hipótese, arremate-se ainda que se porventura o casal não veja mais a possibilidade – por menor e mais remota que seja – de uma reconciliação, que pelo menos a separação se proceda da maneira mais amigável possível, já que, apenas o fato de existirem na grande maioria o envolvimento de filhos do casal nestas situações, é motivo para que os separandos tornem-se, pelo menos, bons amigos. Na realidade, o que ocorre lamentavelmente são cenas em que os cônjuges, na triste disputa judicial em que só se conquistam perdas e feridas irremediáveis, usam dos filhos para denegrir a figura do outro. E com isso, os filhos também passam a sofrer por amarem os pais sem distinção.

O que concluímos é que o casal, sendo bem orientado, pode evitar situações como as que mencionamos acima, podendo inclusive até mesmo ocorrer uma reconciliação entre ambos, situação esta felizmente já presenciada por nós nesta árdua experiência. O casal, mais amadurecido e consciente dos erros infantis cometidos anteriormente, não voltará mais a comete-los, passando, com isso, a viver uma nova fase na sua vida conjugal.

Assim, esperamos que com base no que acima tentamos abordar (ou quem sabe ainda deixamos de falar) sirva para contribuir a uma boa reflexão entre muitos casais que vem buscando uma luz para sair de um relacionamento conjugal conturbado e indefinido, fazendo com que a felicidade tão almejada pelo casal jamais se deixe apagar. Para isso, é necessário que o casal acima de tudo acredite em Deus, e procure seguí-lo nos seus ensinamentos, ensinamentos estes que estão sendo deixados a margem por muitos casais que se entitulam “modernos”, porque, simplesmente, não há como construir um casamento sem a presença de Deus.

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