domingo, 4 de março de 2012

Casamento sem namoro tem boa chance de resultar em decepção


Namorar é se conhecer com calma, mantendo certa distância e independência, cada um revelando aos poucos sua personalidade e seu caráter. Se houver entrosamento, parte-se para a vida em comum. Pular essa etapa da relação é arriscado, pois a intimidade repentina dissolve rapidamente as fantasias e pode revelar facetas até inaceitáveis do companheiro.


Num desses agradáveis bate-papos entre amigos, dois deles, um de cada sexo, estabeleceram a diferença entre namorar e casar. Segundo eles, namorar é aproximar-se lentamente um do outro para dar tempo de conhecer e ser conhecido. Enquanto isso acontece, as comportas da emoção são gradualmente abertas e revela-se, aos poucos, a existência ou não de compatibilidade afetiva, sexual e de idéias. A hesitação inicial vai se desfazendo e ao final o casal se entrega ao amor. Então, chega a hora do casamento, a união íntima que é capaz de transformar duas pessoas em uma. O perigo de rompimento pela inesperada percepção de características indesejáveis ou inaceitáveis no outro diminui muito, pois uma espécie de "seguro de conhecimento" foi construído durante o namoro - um período de relativo comprometimento, relativa liberdade, encontros de uma ou duas vezes por semana, telefonemas esporádicos e poucas cobranças.

Já casar, pela definição dos meus amigos, é grudar um no outro. A ânsia de estar junto, de pensar e sentir igual, de ficar embolado com o outro, de preenchê-lo por completo faz com que as demandas mais sutis do parceiro sejam respondidas prontamente, sem pensar. Cada um se esquece de si e o foco da vida passa a ser o companheiro. Cair nesse tipo de relação rapidamente, pulando o namoro, impede o casal de se perceber mais profundamente. O resultado é que a relação vai se consolidando artificialmente, até que o inevitável ocorre: a individualidade de cada um começa a aflorar e muitas vezes as características e os modos de funcionar de um são inaceitáveis para o outro.

Aqui a armadilha revela toda a dimensão de sua burlesca zombaria. Os apaixonados não se conhecem e estão se relacionando não com o outro verdadeiro, mas com a fantasia neles colocada. Quando a verdadeira pessoa surge é um espanto. "Como pude me apaixonar por alguém tão diferente de mim, cujos princípios abomino, cuja conduta me é desagradável?" Mas já é tarde. A paixão impôs seu império e terá de haver uma luta para dela se livrar, pondo os pingos nos "is".

Em geral, a paixão súbita tem a ver com uma necessidade urgente de preencher um vazio. Qualquer pessoa que suporte a projeção de uma fantasia - de homem ou de mulher - é logo capturada para uma união fusional e simbiótica, independente do conhecimento verdadeiro.

Não estou dizendo que pessoas bem centradas, que bastam a si mesmas, não possam ter paixões súbitas. Podem, sim. A essas não se aplicam as palavras acima. Elas se reconhecem pelo olhar, pela expressão do corpo, pelo modo de se comportar, pelo tom da voz, pelos feromônios e por muitos outros detalhes impossíveis de serem detectados de maneira consciente. É um conhecimento intuitivo, vibracional, primitivo, um conhecimento do âmago do outro, de seu modo básico de ser. As diferenças que certamente surgirão estarão envoltas por esse manto de entendimento e amor fundamental. Não aparecem como incompatibilidades, mas como diferenças a serem harmonizadas.

Cautela, pois, com o amor à primeira vista. Há que evitar o grude indiscriminado, mas também há que cuidar de não deixar passar a oportunidade de se relacionar com alguém que poderá vir a preencher, em grande parte, a necessidade de afeto e companheirismo.

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