domingo, 28 de agosto de 2011

O que pode ser hoje uma espiritualidade cristã?





A escuta como coração da vida espiritual cristã

Na Bíblia, Cristo é a Palavra de Deus aos homens. O homem crente é sobretudo aquele que escuta com Ele. A fé nasce da escuta, segundo Paulo. 2 Cor 5, 7 («Nós caminhos pela fé, não pela visão»). É o primado da escuta que subjaz à fé cristã: dela nasce a conversão, que por isso é o seu sentido próprio. Da escuta ao seguimento, e do seguimento à perceção da inabitação de Deus em nós. São os 3 passos.

Precisamos de pessoas capazes de escutar. Na prática da vida espiritual cristã hoje é essencial a frequência e a prática da escuta de Deus através da Escritura. A lectio divina é essencial para dar novo vigor á vida espiritual renovada pelo Concílio Vaticano II. E é importante porque o método, o dinamismo da lectio divina é o método da vida espiritual tout court. Nela atenho-me no texto, leio-o, medito-o, estudo-o e procuro compreendê-lo, pondo em prática na minha vida para viver a minha quotidianidade segundo a vontade de Deus. Só assim posso discernir a presença de Deus.

O Batismo, figura da vida espiritual cristã

O batismo é o fundamento da vida cristã, segundo João Paulo II, pois abre à vida espiritual cristã. É a porta de ingresso na vida segundo o espírito. É figura suficiente e necessária de toda a vida cristã.

Isso põe-se no primado da fé em Cristo na vida do cristão, num dinamismo pascal que nos leva do pecado à vida nova em Cristo, vivendo como corressuscitados em Cristo.

Além disso, o batismo mete o cristão na dinâmica da vida trinitária, que é a vida de oração e litúrgica. Mete o cristão no combate espiritual contra os ídolos.

Também o batismo mete o cristão no espaço comunitário, recordando ao cristão que este recebe a fé num corpo comunitário, para os outros e com os outros. Daí surge a santidade como envolvimento de toda a pessoa na vida de Cristo. O homem como sinal de alguém que é chamado a viver integralmente por Cristo e em Cristo.

A humanidade de Jesus Cristo

O fim da vida espiritual cristã é plasmar o cristão à imagem de Jesus de Nazaré. Cristo não cria em nós um tipo de homem mas um homem. «Ecce homo». O que significa isto? Significa olhar Jesus e o Jesus dos Evangelhos colhendo a Sua humanidade, vendo que Ele é um homem de fé, de fidelidade e abandono a Deus, também no momento supremo da Sua morte.

Também Jesus rezou constantemente na Sua vida, procurou silêncio e solidão para encontrar o Abba. Ele teve contacto com a Escritura na liturgia sinagogal e de forma pessoal, a ponto da Sua palavra se confundir com a palavra da Escritura. Lutou contra o mal, contra as tentações, e não só no deserto, mas também na comunidade dos discípulos, no interior do mundo religioso em que vivia. Isso significa olhar a capacidade de encontro de Jesus, de compaixão pelos outros. Uma humanidade capaz de gratuidade, contemplando na natureza a obra de Deus. E por isso consegue fazer da Sua morte um ato de amor, dando sentido á obscenidade da morte. A cruz passa a ser um lugar onde é possível amar.

A vida espiritual cristã deve levar ao amor à semelhança da forma como Jesus amou, sabendo que Ele está sempre antes, precede-nos.



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